quinta-feira, 8 de abril de 2010

Via Rural - 18º Encontro Estadual de Cafeicultores




O 18º Encontro Estadual de Cafeicultores que ocorreu quarta-feira, 07, contou com a presença de 400 participantes entre produtores familiares de café, dirigentes de associações da classe, pesquisadores, técnicos e estudantes.

O evento apresentou a 8ª edição do Concurso Estadual Café Qualidade Paraná e mostrou os avanços em relação aos anos anteriores. Outros temas abordados pelos palestrantes foram a adequação do sistema de manejo da lavoura, colheita do café e fortalecimento do cooperativismo.

O coordenador do evento, engenheiro agrônomo do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Cornélio Procópio, Cilésio Abel Demoner, fez a abertura da mesa técnica expondo a importância da produtividade, qualidade e mercado como forma de uso o potencial no cafeeiro do Paraná.

Tratos Culturais e Sustentabilidade

Na primeira palestra do encontro, o engenheiro agrônomo do Emater de Carlópolis, Otávio Oliveira da Luz, destacou que gerenciamento é a palavra chave para atender às exigências do novo cenário da cafeicultura mundial. De acordo com Oliveira, não basta ter uma produção de qualidade, é preciso saber gerenciar a mercadoria. “Hoje não há espaço para erros no cálculo”, enfatizou.

Oliveira explicou que fatores como pragas, doenças e questões climáticas podem declinar a produtividade, por isso iniciativas de prevenção devem ser adotadas. Algumas técnicas baratas de adubação corretiva que têm ajudado na recuperação do solo são a calagem, gessagem e fosfatagem. Medidas como estas aumentam o sistema radicular de absorção de água e nutrientes, ensina o engenheiro.

A poda em café é outra técnica barata que dá ótimos resultados. Essa prática corrige a arquitetura da planta, diminui custos de produção, facilita tratos culturais e auxilia na recuperação de lavouras atacadas por pragas e doenças. Contudo, qualquer poda tem resultado negativo na produção ao longo dos anos. Por isso, o cuidado e o conhecimento da prática são essenciais. Segundo Oliveira, “a lavoura precisa estar em bom estado e bem preparada”.

Em relação aos parâmetros de sustentabilidade, a produção deve ser superior a 30 sacas beneficiadas por hectare para gerar lucro ao agricultor. Um dos fatores que eleva os custos na produção é a política agrícola brasileira, salienta. Entre os motivos desse aumento está a adequação ambiental da propriedade, ausência de seguro rural e a alta taxa do imposto estadual em relação a outros estados produtores (Paraná 12%, São Paulo 7% e Minas Gerais 5%). “A disparidade no aumento do salário mínimo em relação ao preço do café e o Real forte são outros fatores que elevam os custos”, conclui.

Como forma de reivindicar melhorias para o setor, a participação e organização dos cafeicultores de forma unida é fundamental. De acordo com o engenheiro, dos 5.764 cafeicultores no Paraná, somente 12% são associados a alguma organização. “Mais do que ter subsídios do governo, trabalhar bem e fazer boa administração, o cafeicultor precisa buscar medidas políticas que beneficiem a classe. Caso contrário, todo o ganho continua a ser transferido para os outros elos da cadeia e não para o produtor do café”, finalizou o palestrante.

Cenários para o agronegócio café

O segundo painel do encontro foi ministrado pelo engenheiro pesquisador do Instituto de Economia de São Paulo, Celso Luis Rogrigues Vegro. Nele foram apresentados quadros explicativos e comparativos da economia cafeeira mundial.

O pesquisador falou sobre a trajetória do consumo do café, demonstrando que a demanda mundial continua crescente. “Considerando um cenário conservador de crescimento de 2% ao ano, em 10 anos, a demanda mundial será de 160 milhões de sacas beneficiadas por ano. Hoje, o mundo produz só 130”, exemplifica.

Outra boa notícia é que o consumo de café dos países produtores irá triplicar e os estoques poderão ser consumidos no próprio país, uma vez que as classes menos favorecidas aumentaram a participação no mercado, sendo esse vigor do mercado doméstico, um dos diferenciais do Brasil.

Entre as perspectivas para 2010, o pesquisador destaca a elevação das cotações de petróleo e metálicas, o que gera reflexos positivos nas agrícolas. A valorização do Yuan (moeda chinesa) eleva as cotações internacionais dos commodities, neutralizando os mercados. Sobre a China, o palestrante citou a descarbonização da economia do país como elevador dos custos da produção, permitindo aos outros países concorrerem de forma mais justa.

Vegro finalizou a palestra afirmando que o Brasil ainda não tem um crescimento sustentável no setor cafeeiro, mas tem potencial para atingir essa meta. Para que isso ocorra, são necessários investimentos no pós-colheita e no desenvolvimento das tecnologias agronômicas. As inovações trabalhadas por órgãos como o Emater, como certificações sócio-ambientais e selos de qualidade, além do comércio justo, valorizam o mercado regional. “O cafeicultor tem que começar a safra já sabendo onde ele vai comercializar seus produtos”, orienta Vegro, que ressalta o papel das associações e cooperativas na assistência ao cafeicultor.

Concurso Estadual Café Qualidade Paraná

Em sua oitava edição o concurso visa a discussão, os aprimoramentos, o repasse e a aplicação das tecnologias disponíveis no setor cafeeiro. De acordo com Nelson Menolli Sobrinho, engenheiro agrônomo do Emater, a premiação gera a melhoria efetiva da qualidade da mercadoria e divulga diferentes formas de comercialização. A participação de seis das 10 regiões cafeeiras paranaenses no concurso gerou um reconhecimento nacional e internacional da qualidade do café. Segundo Olivia Fustinone da Silva, vencedora da edição anterior do concurso na categoria café natural, eventos como este demonstram ao consumidor e ao próprio produtor a importância que ele tem.

O chefe regional da Secretaria do Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), Gil Abelin, representante do governador Orlando Pessuti no encontro, falou da importância de uma lei de rotulagem do café e apoio da esfera pública aos pequenos produtores como temas fundamentais a serem discutidos na atividade cafeeira. No cerimonial de encerramento, Abelin, lançou oficialmente a 8ª edição do Concurso Estadual Café Qualidade Paraná.

Reportagem:
Tatiana Ferreira – 9614-7929

Contato:
Otávio Oliveira da Luz – engenheiro agrônomo do Emater, palestrante - (43) 8802-5371
Celso Luis Rogrigues Vegro – engenheiro pesquisador do Instituto de Economia de São Paulo - (11) 9783-9021

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